Por que "presidenta", presidente?

A presidente Dilma começou muito bem seu governo - tão bem que minha maior crítica é em relação ao seu desejo de ser tratada de “presidenta”. Embora os dicionários Houaiss e Aurélio apontem a existência da palavra como substantivo feminino, tal utilização não é comum, uma vez que “presidente” é um substantivo de dois gêneros. Sendo assim, embora gramaticalmente correta, o uso repetido da mesma pela governanta do país pode levar as estudantas, as gerentas e as videntas a pleitear o mesmo tratamento – para não falar dos dentistos, frentistos e psicanalistos, que sem dúvida sentem-se mal representados pelo estranho gênero de dois gêneros que lhes cabe. Melhor ficar com "presidente Dilma", embora caiba a questão aos gramáticos: porque o que vale para uns não vale para outros?

Um comentário:

Anônimo disse...

Em princípio, como ela quiser. Não há norma na língua que defina uma das formas como errada, nem mesmo menos correta. O professor de língua portuguesa e apresentador de TV Pasquale Cipro Neto diz que a terminação “nte” vem do latim e é comum nas línguas neolatinas, como o português, o espanhol e o italiano. Ela indica o executor de uma ação, normalmente tornando a palavra invariável quanto ao gênero. Por isso, dizemos “o gerente” para homens e “a gerente” quando uma mulher ocupa a função. É o que em português chamamos de substantivo de dois gêneros.

“No caso de ‘presidenta’, talvez pelas conquistas das mulheres em vários territórios, surgiu esse uso, que os dicionários acolheram”, diz Pasquale. “Os três maiores dicionários da língua portuguesa, o Houaiss, o Aurélio e o Aulete, já registram ‘presidenta’ como equivalente de ‘a presidente’, ‘mulher que preside’. As duas formas estão corretas.”
A língua é construída diariamente, pelo uso que dela fazem aqueles que a falam e escrevem. Se até hoje a forma “a presidente” esteve disseminada na imprensa e na literatura brasileiras e espelhou uma realidade quase sem mulheres, um cenário protagonizado por uma delas pode inaugurar uma tendência, a das presidentas. Como já houve a oportunidade das doutoras, das ministras... “Vai ser o uso que de fato vai definir o termo. Como acontece na Argentina, em que Cristina Kirchner faz questão de ser ‘la presidenta’, não vai haver saída que não seguir a vontade da própria eleita”, diz Pasquale Cipro Neto.